Autores: PAULA GUERRA and THIAGO PEREIRA ALBERTO (2021)
Editora: INTELLECT BOOKS
Com o vigésimo aniversário da ascensão da geração responsável pelo renascimento do rock em Nova Iorque no início dos anos 2000, a cena capitaneada por bandas como The Strokes, Yeah Yeah Yeah Yeahs, LCD Soundsystem e Interpol foi objeto de recente revisão histórica, como no livro de Lizzy Goodman Meet Me In The Bathroom (2017) e num documentário, agora em produção, adaptado do livro.
Frequentemente citado pelos media especializados como a última cena de música rock a estabelecer um impacto global, emergindo pouco antes da ascensão mundial da Internet, vários eixos analíticos podem ser utilizados para traçar o seu sucesso e permanência: o alinhamento estético com géneros musicais como garage, punk e pós-punk que prendem uma sensação de salvação do rock ao movimento; o envolvimento dos media então líderes, como as revistas especializadas e a MTV, bem como um repertório que transcendeu nichos e se infiltrou nas discotecas, já que não era o caso do rock há algum tempo. Neste capítulo, pretendemos analisar outro factor notável no dimensionamento desta cena, o lugar da nostalgia como aspeto importante na paisagem de retromania da cultura pop contemporânea, na representação e reconhecimento desta geração. Qual foi o impacto do punk e do pós-punk de Nova Iorque do final dos anos 70 na cena que surgiu três décadas mais tarde? Como é que as imagens povoadas por imagens do CBGB e dos Ramones, Televisão e Talking Heads vêm modelar o chamado renascimento do rock pós 11 de Setembro? Através das influências evidentes assumidas pela geração posterior, assinaladas em produtos como a compilação musical Yes New York (2003), na ocupação de espaços urbanos não tão valorizados (como Bowery e Williamsbourg) ou na recuperação da cultura material (jaqueta de couro, sneakers) típico da infância do punk na cidade, vamos enfatizar como estes gestos denotam a força sincrónica e trans-histórica do punk no século XXI, através de um nostálgico pathos que, acreditamos, também serviu de catalisador para a criação desta cena musical celebrada historicamente nos últimos anos. A propósito, a crescente atenção que os curadores dos museus contemporâneos têm dado ao punk – como o Metropolitan Museum of Art, o Louvre, ou a British Library – mostra bem isto: a aceitação do seu papel desconcertante e importante de mexer no status quo em busca da liberdade pessoal, e simultaneamente, a sua domesticação como forma artística e cultural que é exposta no museu como objeto de nostalgia de temps perdu.
GUERRA, Paula & ALBERTO, Thiago Pereira (2021). Welcome to the ‘modern age’: The imagery of punk from the 1970s in the redefinition of the New York music scene of the 2000s and beyond. In: BESTLEY, Russ; DINES, Mike; GUERRA, Paula & GORDON, Alastair (Eds.). Trans-Global Punk Scenes. The Punk Reader Volume 2. Fishponds, Bristol: Intellect Books. URL: https://www.intellectbooks.com/trans-global-punk-scenes.
@Esgar Acelerado